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Gostaria de acreditar: Descobertas bactérias que degradam crude no Golfo do México

Quinta-feira, 26.08.10

Cientistas norte-americanos descobriram bactérias no fundo do mar das caraíbas que digerem petróleo. A descoberta foi publicada hoje na revista Science. As bactérias agora encontradas podem ser vitais para a limpeza do crude derramado no Golfo do México. Os cientistas descobriram que as bactérias degradam o petróleo bruto mais rápido do que o previsto. Esta espécie é capaz de viver em temperaturas abaixo dos cinco graus e quase sem oxigénio.

 

Fonte: http://tv1.rtp.pt/noticias/?t=Descobertas-bacterias-que-degradam-crude-no-Golfo-do-Mexico.rtp&headline=20&visual=9&article=370101&tm=7 

 

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12 maneiras de transformar seu aluno em fã

Quinta-feira, 19.08.10
Brasílio Neto


Manter um aluno por dois, três anos é relativamente fácil, com as dificuldades de se mudar de escola: o estudante tem de adaptar-se a um currículo totalmente novo, novas regras, etc.

O problema é que essa tática não garante que os parentes daquele aluno se matriculem ali. E tratando-se de ensino superior, vai frustrar o aluno, que não se sentirá preparado para sua profissão, e também não vai indicar a nenhum amigo ou conhecido a essa instituição.

Um dos grandes desafios das escolas hoje é tornar seus alunos fãs, para que eles permaneçam na instituição e tragam novos estudantes. Veja algumas dicas:

1.Seja fonte de novas idéias: todos seus alunos estão preocupados, em graus diferentes, com o futuro, com a maneira pela qual o mundo funciona. Apóie seus alunos nesse sentido, dando-lhes informações sobre o cotidiano que não estão no currículo. A escola também pode realizar palestras e bate-papos com profissionais de sucesso, futurólogos, economistas, etc.

2.Demonstre que você tem o conhecimento: o conhecimento que seus alunos esperam, muitas vezes, não é aquele que o professor passa na sala de aula. Que tal fornecer-lhes instruções básicas de economia, marketing pessoal e outros assuntos necessários para sobreviver lá fora? Desenvolva rápidos livrinhos sobre esses temas e distribua a seus alunos.

3.Transmita a imagem correta: se você quer que sua instituição de ensino seja reconhecida como a melhor da região, então faça com que tudo à sua volta reforce essa imagem. Não é necessário contratar um decorador e cobrir seu escritório com tapetes e quadros caros, mas concentre-se no óbvio. Ataque banheiros com ladrilhos faltando, parede manchadas, plantas secas ou mortas. Assegure-se de que toda sua equipe se apresente bem, com uniformes em ordem. Mire-se no exemplo dos parques da Disney, que sabem que boa parte de sua imagem vem de seus faxineiros, com uniformes imaculadamente limpos e passados. O mesmo vale para suas serventes.

4.Conheça o aluno: não assuma que você entende os anseios e as necessidades de todos os alunos. Cada bairro da cidade, cada classe social produz pessoas com necessidades e visões diferentes. Dentro de cada bairro, cada família possui suas peculiariedades. E dentro de cada família, cada pessoa tem seu modo único de pensar. Muitos colégios erram ao se apoiar em estudos referentes ao "aluno brasileiro médio". Ora, trabalhar com a média vai fazer, no máximo, que você crie uma escola igual às outras. Gaste algum tempo entendendo a comunidade que você quer atingir.

5.Demonstre que você está aprendendo constantemente: esse é um componente chave para garantir o relacionamento escola-aluno. Para que um estudante sinta-se confortável com o passar do tempo, você deve mostrar que está constantemente aprendendo, tornando-se mais atual, útil e competente. Ficar estagnado é fatal para qualquer instituição.

6.Comunique-se claramente: manter um entendimento claro e cristalino com seus alunos é mais importante do que nunca. Cuidado com aquelas circulares cheias de termos técnicos. Algumas são escritas de uma maneira que só confunde os alunos e pais. Esqueça, portanto, as "atividades de campo interativas para observação da variedade da fauna nacional no Bosque e Jardim Botânico Municipal Memorial Etelvina Montes Farberbara.". Escreva "visita ao Jardim Botânico".

7.Seja acessível: mantenha suas portas abertas, esteja sempre pronto para falar com seus alunos. A grande maioria não abusa dessa facilidade de acesso, embora eles se sintam mais seguros ao saber que podem contatá-lo sempre que precisarem. Diminua a burocracia entre a direção e os alunos.

8.Ouça: deixe o aluno falar e você vai acabar descobrindo exatamente o que ele deseja para que suas aulas e sua escola sejam ainda melhores. Somente quando você tem uma imagem bem clara dos motivos e preocupações dos estudantes é que você pode montar uma escola específica para aquela realidade. Abuse de caixas de sugestão e - por que não - reuniões com representantes de alunos.

9.Pense como o estudante: foque no que agradou a você como aluno, quando você sentava do outro lado da sala, bem como as coisas que fizeram você trocar de escola ou faculdade. Assegure-se de praticar a primeira parte, e evitar a segunda. E resista à tendência comum de achar que o que é bom para a sua escola é automaticamente bom para os alunos. Não é, mas o inverso é verdadeiro: o que é bom para seus alunos, no final das contas, vai ser bom para sua instituição. Pense nessas leis sempre que for aprovar algo para sua instituição. Aquela nova ação vai tornar o estudo melhor, mais fácil ou agradável?

10.Nunca decida o que um aluno quer: os estudantes querem conselhos, dicas, sugestões e não conclusões o tempo todo. Então ofereça opções e alternativas. Ensine-os a pensar e analisar. Existe um espaço para verdades absolutas na escola (2 + 2 =4), mas ele não deve ser dominante no relacionamento com os alunos. Trabalhe para criar um cenário que permita ao aluno decidir, apontando aspectos positivos e negativos de algumas situações. Você estará desenvolvendo características que serão muito úteis para eles mais tarde.

11.Torne-se paranóico: Andy Grove, presidente da companhia de peças de computador Intel, sugere que seu sucesso é resultado direto de sua paranóia. É a paranóia que o mantém engajado, atento e fazendo perguntas. Ele está constantemente no limite e suas antenas estão sempre funcionando. Dessa maneira, é difícil alguma coisa passar desapercebida ou pegá-lo de surpresa. O mesmo vale para sua escola. Tenha uma equipe de paranóicos, atentos às mudanças das necessidades dos alunos, aos novos lançamentos de livros didáticos, às novas tendências. Aí, separe o que é paranóia do que é realmente útil. Nada de ficar mudando de livros a cada lançamento: esteja atento, porém seja criterioso.

12.Se você não pode ajudar o aluno, seja honesto: a prova do profissionalismo é dizer não. Não existe maneira de uma escola (ou professor) ser capaz de fazer tudo - e nem o estudante espera isso. Alunos querem soluções boas e confiáveis. Se não for possível, diga. É melhor que prometer e não conseguir cumprir depois.

Fonte: http://www.profissaomestre.com.br/php/verMateria.php?cod=1881

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por Mateus Monteiro às 13:04

Dica de Leitura - Pedagogia da autonomia

Quinta-feira, 19.08.10
Brisa Teixeira


O educador e pensador Paulo Freire, na sua última obra em vida “Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa” e que agora será relançada em memória aos dez anos de morte do educador, discute e dialoga com os professores e traz uma contribuição passada com muita sensibilidade e paixão em relação ao compromisso como educador. Paulo Freire enfatiza a necessidade de uma reflexão crítica sobre a prática educativa. Ele ressalta o quanto um determinado gesto do educador pode repercutir na vida de um aluno e da necessidade de reflexão sobre o assunto, pois segundo ele ensinar exige respeito aos saberes do educando.

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por Mateus Monteiro às 12:53

Serões ao Luar e as Curiosidades de Criança - O Começo do meu letramento.

Sábado, 14.08.10

As noites da minha infância, as lindas noites que já tive, tiveram o condão de despertar em mim o gosto pelas narrativas orais, e mais tarde, pela leitura e a escrita.

Com saudades, recordo os serões realizados em semicírculos, à soleira da porta, na maioria das vezes, nas noites de luar. A mamãe narrando histórias de encantar que cativavam a atenção da criançada ávida de boas e divertidas histórias, mesmo daquelas que já tinham sido contadas e recontadas.

O auditório dispunha-se em torno da contadeira. O raio do semicírculo apenas tendia a diminuir, por mais que entrassem outros elementos. À medida que se avançava na intriga e a sessão caminhava para o fim, o raio do semicírculo ia-se encolhendo qual elástico pequeno que se retraía, depois de esticado. Nessa hora, realmente, é que queríamos mais e mais histórias, se não pelo encanto, seria pelo medo de nos afastar do local onde nos sentíamos mais seguros.

Não posso deixar de rememorar do fascínio que os livros dos meus irmãos mais velhos exerciam sobre mim. Quantas vezes fui enxotado durante os sagrados estudos do Zeca, da Tanha e da Maria, quando, por curiosidade, me encontrava bem encostado a eles, deleitando-me com a leitura que faziam e com as imagens que fidedignamente ilustravam o que iam dizendo. Essa minha curiosidade levou-me também a partir a afamada pedra-de-conta que mamã usava para ensinar-nos a escrever e a fazer as primeiras operações aritméticas. A pedra-de-conta era uma espécie de quadro em miniatura feita de grafite sobre o qual se escrevia com um pauzinho do mesmo material.

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por Mateus Monteiro às 13:01

Lingua kabverdiana, nôs lingua materna

Sábado, 14.08.10

Na 2000 UNESCO kria dia internasional da lingua materna ke pasa ta ser komemorode na dia 21 de Feverer, kome forma de insintiva estude y prezervá lingua materna de tude pove. Un extimativa ta konsiderá ke serka de 6000 lingua sta ta kore risku de dezaparsé. Y lingua materna é un fator fundamental na identifikasão dun pove, pamode el ten kapasidade de nomea tude kosa, exprimi, avalia, transmiti…

Lingua kabeverdiana - ô kriol, moda k’nô ta xemal - é un dakês axpete más forte de kultura de kabe Verde. El é lingua materna d’nôs kê kabeverdian. É un lingua ke forma dun mistura entre lingua portugeza y linguas afrikana.

Konxtituisão da Rpúblika ta konsidera-l un da kês dose lingua nasional de Kabe Verde. Kel ote é lingua portugeza, ke atê agora é úniku lingua oficial.

Dun lade, portugeje é kel lingua ke ta abri Kabe Verde janela pa munde lá fora (moda tude jente sabê portueje é falode pa más de 200 milhões de pesoa), pa ote lade, kriol é lingua d’unidade nasional y  akel kê falode pa tude kumnidade, tonte li dente d’nôs terra kome la fora.

Nô ka sabê mute drete kandê ke kriol de Kabe Verde nasê, má é sabide ke-l foi língua franka na Sidade Velha (Sidade da Ribeira Grande de Santiago) y na kosta Osidental d’Áfrika, ainda na sék. XVI, na kel tempe de tráfiku d’ exkrave. Más tarde esse língua passa ta ser falode na tude ilha de Kabe Verde y ainda nô ta otxa sinal de sê prezensa na Bissau y Bafatá, Casamança, Arruba e Curaçau.

Konxtituisão da Repúblika de Kabe Verde, na ponte 2 d’art. 9.º ta escrebe ke o Estade ta promovê kes kondisões pa oficializasão de língua materna kabeverdiana, em pê digualdade má língua portugeza. É importante k’ise akontesê pa ke lingua kabeverdiana - ke na nha opinião ka ten neum probablidade de ben dezaparsê – pasa ta ser konxide sientifikamente, o ke so ta trazê vantajens pa tude kin krê domina otes lingua y expesialmente portugeje.

Alguns kozas tem side fete kê pa odja se nô ta djegá la. Governo de kabe Verde, dia 31 de Dezembre de 1998, publika Dekrete-lei n.º 67/98, dondé ke foi aprovode, exprementalmente, ALUPEK (alfabete unifikode pa eskrita de kabeverdiano). Na introdusão deste dokumente nô ta senti loge kel papel sekundário ke kriol ta dezempenha na nose sosiedade, ora kel ta fala ke portugeje é lingua oficial e internasional y ke lingua kabeverdiana, ô kriol é língua nasional e materna; ke pa kel primer ta rezervode funsão de komnikasão formal y pa segunde ta rezervode funsão de komnikasão informal, partikularmente na domin de oralidade. Ka é razoável ke nun pais indipendente lingua mater y nasional okupa un lugar sekundário, pamode un lingua ka é sô un mei de komnikasão, konde el é materna, el tem un karga kultural y afetiva, mô el ta exprimi visão ke jente tem de munde, donde un interpretasão ke ta intranha dente prátika sosial de kada pove.

É bon sabê ke kel mesme dokumente ke aprova ALUPEK num determinade momente ta txa eskribide ke kriol é lingua do dia-a-dia na Kabe Verde y elemente esensial d’identidade nasional, y ke dezenvolvimente armonioze de nose paije ta pasa pa dezenvolvimente y valorizasão de lingua materna. El ta considerá ainda ke esse dezenvolvimente y valorizasão sô ta ser posível kon extandardizasão da eskrita de kriol.

 

A eskrita de kriol dja tem un poke de istória:

- na 1887 António de Paula Brito aprezenta un propoxta bazeode na prinsipe de ekonomia na sê “Apontamento para a Gramática do Crioulo que se fala na Ilha de Santiago de Cabe Verde”;

- em 1903 Cónego António Manuel da Costa Teixeira, profesor de Simnar de San Niklau, publika um “Kartidja” – “Cartilha Normal Portuguesa”- um expésie de gramátika de lingua kabeverdiana;

- em 1932 Pedro Cardoso publika um livre “Folclore Caboverdeano”, pamode el tá intiresa bastante pa preservasão de kultura kabeverdiana e txeu vese, de forma polémika, el defendê lingua materna de sê pove;

- Eugénio Tavares (Nhô Eugene) foi um dakês maior reprezentante de poezia en kriol. El publika na 1932 sê livre “Mornas – Cantigas Crioulas” ke é konsiderode un monumente d’alma e d’sodade kriola. Pa Nhô Eugene estudá gramátika de lingua kabverdiana ka é sô un kestão sientífika pa garantí firmeza de nose lingua, má é tamben um nesesidade istórika.

- Napoleão Fernandes, de 1920 a 1969, estudá lingua cabeverdiana un poke dondé kel txa un obra “Léxico do Dialecto Crioulo do Arquipélago de Cabo Verde”, ke foi publikode más tarde pa sê fidja Ivone Fernandes Ramos, na 1991;

- Baltazar Lopes Y Dulce Almada, tude ês de San Niklau, fazê Estudes y Insais importante sobre lingua kabverdiana. “O Dialecto Crioulo de Cabo Verde”, de Baltazar e “Contribuição para o Dialecto Falado no seu Arquiplélago”, de Dulce Almada;

- na 1979 foi realizode kolóquio de Mindel ondê ke sai un propxta dun alfabete padronizode ke más tar ben da lugar a ALUPEC;

- na 1998 foi puiblicode ALUPEC, un alfabete de baze latina conxtituide pa 23 letra e 4 dígrafos (reprezentode em maiúskula e minúskula). Kada letra ou digrafo só ten un funsão, un úniko son, bazeode na lógika fonológika, konsideronde dose moda de fala na kabe Verde: moda de Barlavente y moda de sotavente.

- bem poke tempe, Governe aprova un diploma ke ta rekonhesê sê extatute de uze na administrasão públika y na edukasão, paralelamente, y na konvivênsia má língua portugeza.

 

A desizão d’ofisializa lingua kabeverdiana

A desizão d’ofisializa lingua kióla é objete de polémika na komnidade kabeverdiana. Ka é fásil normaliza un língua, isto é, adota un varian pa funsiona kome norma y ke ta kaí na agrade de tude falante. Má é nesesário ten koraga. Na kuase tute paije ke oje ten sês lingua materna ofisial é asin ke kontesê. Nôs Governante ke ta realmente interesóde na leba esse projete pa diante devê eskesê de perdê São Visente ô perdê Santiago, en termes partidário – afinal “Santiago é ka sô Paria”, si ma Barlavente é ka só São Vicente – y pasa ta pensa kome linguista, nakel kê más importante pa ganha un lingua konfigurode kome instrumente de eskita viável y efikaje.

Baltazar Lopes ke foi dakês pioneiro na estude de kriol de Kabe Verde y un dos proeminente estudiose kabeverdiane txa sê opinião já dode en matéria dakel ke deve funsional kome norma.

Variante de “Praia kapital”, na nha modextia opinião, stá medjor posisionode pa ser eleite kome norma: kapital ta situode na ilha má grande de kabe Verde y k’un grande populasão; lá é ke stá poder pulítiko y dalá djal ka ta sei más; estranjer, koperantante y porke não diplonata, ten un grande fasilidade pa fala variante da Praia, exemple é kês afrikan de kontinente, merkone de “corpo da Paz”, ets. Enkuante ke kada ilha ta kontinua ta utiliza sê variante na situasão informal.

Se ese desisão ka for tomode nôs “língua” ta kontinua kome kriol más antigo de munde y objete de koriusidade akadémika, pamode ainda el é un kriansa, un menine trivide ke ta anda koxe y el ka ta fala drete. Dente de kaza el ta anda, má de porta pa fora ainda el meste dun kompanher.

 

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por Mateus Monteiro às 12:56

O Mister de Todos os Santos

Sábado, 14.08.10

 

Ainda era cedo quando Zeferino Morgado se levantou, persignou, fechou a porta atrás de si e dirigiu-se à ladeirinha. O dia anterior era o dia das bruxas, o último dia do mês. Que coincidência insólita! Nhô Vitorino Zonza chamava Outubro aquele mês, para não pronunciar o seu nome devido às dificuldades que impunha aos agricultores. Era uma sexta-feira 31, que às avessas dá 13. Mas não foi para exorcizar do dia anterior que fez o Sinal-da-cruz. Superstição não é com ele. Cristão convicto como Zeferino só os que não vacilaram e tiveram o (de)mérito de submeter a cabeça às mãos dos presbíteros.

É o dia de Todos os Santos. A tradição manda comer milho verde em família e, por que não, receber visitas, na simplicidade do lar, para regalar com tudo aquilo que as-águas proporcionar. A alegria era grande. Zeferino não tinha lembranças de um ano em que viu crescer as plantas da sementeira sem enfrentar o stress. “Não! Não sei se deveria usar este termo… Stress é uma palavra que se associa à vida citadina. Para o homem do campo, este é um som bárbaro que não faz parte do seu vocabulário. Peço desculpas, meu caro, mas retiro essa palavra.”

Nhô Frank Silves, conhecedor das lides do campo, diz que quando chove em Junho é natural que venha secura depois, que faz as plantinhas de milho passarem por cebolas ainda antes de começarem os seus cálculos matemáticos para a formação das espigas.

Ladeirinha era a esperança de uma mesa farta em milho no dia de Todos os Santos. A horta da chã já estava passada pela brasa. Algumas espigas foram mergulhadas na cachupa, antes ainda de sazonadas. Umas poucas que ficaram aqui e ali agora estavam secas. O desapontamento veio depois de ter calcorreado, cova a cova, rego a rego, cinco ares de terra que semeou na propriedade do seu velho pai. Ao terminar uma espécie de via-sacra ladeira acima, meia dúzia de espigas mal cobria o fundo de um saco de serapilheira que deveria voltar para casa esticadinha de milho, como perspectivara semanas antes.

Ainda antes de chegar à casa, disse com os seus botões: “Vou rabiscar a horta da chã que precocemente foi segada, muitas vezes mesmo ao anoitecer, quando ainda a brasa entre as três pedras do fogão de lenha improvisado no quintal continuava tão viva e fazia pena a dona de casa vê-la morrer assim estéril em tempo de crise de combustível.”

Lá foi ele. Não foi perda de tempo, pelo contrário, com o seu olhar clínico ensacou mais algumas espigas de milho com o apoio da filha que, como ele, conhecia o lugar. Afinal, ela é que enxertava os botões, de manhãzinha, nas ausências do pai. A mãe também fazia o mesmo. Como as mulheres conhecem melhor que ninguém essas coisas de multiplicação! É de causar inveja aos homens! Não sei se já reparou, mas eu já tirei a prova dos noves, por exemplo, as professoras de matemática, mais que os professores, sabem ensinar aos seus alunos como fazer parir os números e como não deixá-los parir. Elas têm sempre um quê de especial quando explicam a matéria…

Não é que Zeferino Morgado encontrou algumas abóboras! Regressou à casa com o seu saquinho de milho de todos os santos às costas e mais algumas abóboras para enriquecer o prato do dia.

Fajã, Novembro de 2008

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por Mateus Monteiro às 12:40


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